sexta-feira, setembro 15, 2006

Todo mundo é jornalista?

Um blog, até pouco tempo, podia ser definido como uma espécie de “diário” eletrônico. Mas esta ferramenta vem ganhando mais e mais recursos e, em alguns casos, pode mesmo ser chamado de veículo de comunicação.

O número de blogs tem dobrado a cada seis meses, segundo informações da Technorati, que monitora o conteúdo de mais de 52 milhões deles. Hoje existem cerca de 70 milhões de blogs e que quase 75 mil novos são criados todos os dias. Isso dá a média alucinante de um novo blog por segundo!! E quem lê tudo isso? Cerca de 1/3 dos usuários da Internet, segundo a mesma Technorati.

No que tange à comunicação e à informação, desconfio que esta seja uma das mais importantes ferramentas criadas para a produção de conteúdo na Web. Não apenas porque permite que qualquer pessoa possa criar e manter um veículo de comunicação, gratuitamente, e sem ter que entender nada de programação. O fundamental, na minha opinião, é que a participação dos leitores já está provocando mudanças na postura dos profissionais que, até bem pouco tempo detinham o monopólio da informação.

Em breve o jornalista não será mais o dono da informação, da fonte, do furo. E quem ganha é a notícia, que passa a ser produzida de forma mais coletiva, adquirindo novos pontos de vista e chegando a lugares e a situações que os meios de comunicação não conseguem chegar. Grandes desastres como o furacão Katrina e a Tsunami no Oceano Índico geraram enormes picos de postagem nos blogs. Informação preciosa, fornecida por gente comum.

Hoje basta estar na hora certa e no lugar certo, com um celular na mão, para se tornar fotógrafo ou cinegrafista. Em vez de ligar para a redação para avisar de um fato, o leitor “apura” a matéria e a envia pronta. E a credibilidade? E tudo o que aprendemos na faculdade e nos anos de experiência profissional? Quem responde é o jornalista Ricardo Noblat, que assina o primeiro blog de notícias do Brasil: “Credibilidade se conquista produzindo informação de qualidade. Isso o leitor comum pode fazer. Mas é claro que o jornalista, que estudou para isso, sai na frente”.

A interatividade ensinou muito a Ricardo Noblat e creio que seu aprendizado pode ser muito útil tanto para profissionais e como para estudantes. Com duas semanas no ar, ele recebeu uma informação de um amigo, profissional competente, com quem já tinha trabalhado, pessoa de confiança. Publicou. Era um trote do Cocada Boa, grupo que cria “notícias” com aparência de verdade como forma de humor. E quem acha que isso não tem graça nenhuma, relaxe, na Internet tem espaço para todos. Os caras têm ótimas sacadas.

Noblat pensou em tirar a nota do ar, mas resolveu pedir desculpas ao público e foi massacrado. “Ninguém gosta de receber críticas, muitos colegas deixaram de colaborar no meu blog, por causa disso. Em um jornal, um erro tem muitos ‘pais’, o que faz com que ninguém, em última instância, se responsabilize por ele. No blog, tudo é de sua responsabilidade e, qualquer deslize gera uma avalanche de críticas em menos de 10 minutos.”

Passado o choque inicial, Noblat entendeu que muitas das críticas procediam e passou a ser ainda mais rigoroso na apuração dos fatos, não importando sua origem. Hoje, além das informações que recebe de fontes e colegas de profissão, ele conta com uma extensa rede de colaboradores, além de dois repórteres contratados. “Todo mundo está sujeito a errar. É nossa obrigação checar tudo”, completa.

O Globo investiu neste nicho e criou o Eu Repórter, no Globo On Line, que recebe material dos leitores. A equipe procura manter o texto original enviado, só fazendo alguma alteração se for fundamental para a compreensão da leitura. Como as matérias são publicadas em uma página exclusiva, fica muito claro que a informação foi produzida por um amador, embora a equipe responsável cheque tudo para garantir a credibilidade, maior valor de um veículo de comunicação.

Essa importante ferramenta de comunicação, de informação e de conhecimento permite dar voz a quem não podia falar. Permite reunir quem não tinha espaço. Permite articular interesses de quem andava sozinho. Basta ter o que dizer, a quem dizer e trabalhar com seriedade. Se este é o seu caso, crie o seu blog. Se não, as colaborações são sempre bem-vindas!

quinta-feira, agosto 10, 2006

Web 2.0 não é forma, é conteúdo

Outro dia li o post Logomarcas tradicionais em estilo Web 2.0, do Carlos Cardoso, que já deu filhotes no blog do Felipe Ranieri e agora brota por aqui. Falava de como diferentes grupos de pessoas entendem a Web 2.0. “Um grupo mais cínico ainda defende que Web 2.0 é Marketing + cantos redondos + degradê”, dizia o Cardoso. E ele citava um pessoal no Flickr onde os “cínicos” postam logomarcas famosas em versão 2.0. As releituras das logomarcas são ótimas, e tem umas que são realmente engraçadas. Mas, em termos conceituais, parece que ainda está longe do que seja Web 2.0.


A “nova fase” da Internet nada tem a ver com forma, mas com conteúdo. E também não se trata de uso intensivo de tecnologia, mas de interação na comunicação. É claro que sempre que algo novo aparece, alguém vai querer vendê-lo. E nisso concordo com o Felipe. Se há um cliente disposto a pagar por um serviço, não vejo mal algum. Então, quando uma empresa remodela seu site para 2.0, acaba por mudar o seu design para avisar ao mundo que tem algo de diferente ali.

Só que não adianta nada mudar a aparência, se a forma de se comunicar continuar idêntica, onde um emissor fala e os receptores escutam. O que os teóricos da comunicação, como Pierre Lévy, perceberam é que as ferramentas que temos hoje nos permitem uma interação maior, em um modelo de “muitos para muitos”, só que sem as fronteiras físicas.

Manuel Castells reforça este pensamento dizendo que “a formação de redes é uma prática humana muito antiga, mas ganhou vida nova, transformando-se em redes eletrônicas de informação energizadas pela Internet, que podem envolver pessoas de dentro e de fora da empresa na troca de experiências e na busca de novas abordagens para problemas comuns.” Nada além do bom e velho “dedo de prosa” em volta da fogueira, só que virtual.

Portanto, a Web 2.0 é a interação entre seres humanos com o objetivo de somar o que se sabe com o que se deseja saber. Nesta conta um tanto louca, o resultado é a multiplicação dos saberes. Parece mágica, mas é Inteligência Coletiva.

Foi isso que os desenvolvedores do Linux fizeram. Através de listas de discussão, trabalharam em conjunto e criaram a maior dor de cabeça para o Bill Gates. É o que o se chama de empoderamento. Cada um de nós pode mudar as coisas, se tivermos a capacidade de nos articular. Isso, claro, pede uma mudança de postura das mais difíceis: ouvir o que o outro diz, levar em consideração, trabalhar com as diferenças.


Discordo que a Web 2.0 seja uma revolução, mas acho estreito ignorar ou desprezar um movimento - ou um momento - significativo pelo qual passa a comunicação e a interação entre os homens. A Internet nasceu da necessidade de trocar informações e de estabelecer redes de interação. Passamos dez anos tentando criar ferramentas para que tudo ficasse mais fácil para o usuário comum e para que as mídias que conhecíamos fossem incorporadas ao ambiente virtual. Pois agora é a hora de usar tudo isso.

segunda-feira, julho 17, 2006

Feed-se

Das poucas unanimidades sobre a Internet hoje em dia é ninguém tem tempo para ler tudo o que gostaria ou precisa. Há informação demais para as poucas horas de que dispomos. Por isso foram criados os agregadores de notícias, que reduzem tremendamente o seu esforço e tempo gastos na visitação dos sites que você mais navega. Pessoalmente, não gosto do termo agregador de notícias, e torço para que não pegue no Brasil. Mas se você já ouviu falar em Feed, Atom, RSS, XML e Syndication, é disso que estamos tratando. Agora, se isso é novidade, fique atento, pois logo será parte da sua vida.

Primeiro vamos tentar descomplicar: feed, em inglês, quer dizer alimentador, syndication é uma empresa que distribui notícias para revistas e jornais; para quem é do ramo, uma agência de notícias. Já RSS é uma extensão de arquivo semelhante ao XML, que já foi sigla de RDF(Resource Description Framework) Site Summary (RSS 0.9 and 1.0), passou a Rich Site Summary (versões 0.91 e 1.0) e hoje é a abreviatura de Really Simple Syndication (RSS 2.0). Então estamos falando de uma forma de alimentar, automaticamente, uma agência de notícias. A SUA agência de notícia particular.

Sei que parece enrolado, mas a idéia central é facilitar a sua vida. O que este agregador de notícias faz é checar, em intervalos regulares, as novidades postadas nos sites que você mais visita e mandar tudo para um único local, criando um “jornal pessoal”. Por isso gosto mais do termo “webagência de notícias” para denominar este processo. No caso de uma notícia ou de um post, por exemplo, você escolhe se quer receber apenas o título, um pequeno resumo ou a notícia toda. E nada fica lento ou pesado, porque ele cria apenas links diretos com os sites originais.

Essa possibilidade de escolha já existe em portais como My Yahoo! e Google, e em browsers como Mozilla Firefox, Safare e Opera. É verdade que no começo dá um pouco de trabalho porque você tem que informar quais sites freqüenta e que sessões gosta de ler, mas depois vale a pena. Alguns desses programas já estão integrados a clientes de e-mail, como Outlook, Eudora e Mozilla Thunderbird. O postcast iTunes, da Apple, também já está adaptado e logo será comum acompanhar as notícias via palm e celular. A tendência, não tenho dúvidas, é que os feeds substituam, em muito pouco tempo, as newsletters.

Se você é usuário do FireFox, por exemplo, já deve ter reparado neste quadradinho laranja que aparece ao lado do endereço da página. É este ícone que identifica um site inscrito em um leitor de feed. Aliás, você vai começar a encontrá-lo com cada vez mais freqüência nas páginas que visita, como neste blog. Basta você clicar nele para passar a receber as novidades no seu e-mail ou no seu "jornal pessoal". Sei que o mecanismo ainda é muito novo e, com isso, é comum ocorrerem alguns bugs. Mas logo estará tudo ajustado e o procedimento será tão mais simples do que o sistema de aviso por listas ou newsletters, que todos devem aderir. É questão de tempo...de pouco tempo.

Ah! Para os leitores que buscam informação técnica, eu recomendo o site do Bruno Torres, que me ajudou muito a desvendar todo este "mistério".

Isto é Inteligência Coletiva

Fiquei sabendo pelo IDG Now que o MySpace é, hoje, o site mais visitado pelos internautas norte-americanos, ultrapassando até mesmo o Yahoo!Mail. Isso é um reflexo claro de que a interação é um caminho sem volta. Entretanto, nunca é demais lembrar que a convergência pura e simples de ferramentas e de tecnologia não é capaz de promover a interação entre as pessoas e a geração do conhecimento.

É preciso distingüir bem as coisas. A possibilidade de utilizar vários tipos de ferramentas em um mesmo meio é uma necessidade - fundamental -, pois facilita e permite que o trânsito da comunicação flua sem “engarrafamentos”. Sem tantos obstáculos, quem estiver disposto a compartilhar conhecimento e agregar informação, sairá ganhando. Mas aqueles que pensam que basta juntar tecnologia no mesmo ambiente para promover interação, dará com os burros n’água.

Veja o que aconteceu com o artigo Esperando agosto chegar, postado neste blog e republicado pela Webinsider. O pessoal da PHP-Nuke Brasil (CNB) publicou o artigo na comunidade deles, acrescentando, no final, uma informação que eu não detinha – a participação de dois membros da comunidade no projeto. É claro que este dado pode não interessar ao público em geral, mas é de extrema relevância no registro da trajetória do trabalho dos membros deste grupo.

Isto é Inteligência Coletiva. Isto é Web 2.0. Isto é wiki (what.I.know.is). Em bom português, “O que eu sei é...”

Obrigada, pela colaboração, rapazes. E parabéns pelo trabalho!

quarta-feira, julho 12, 2006

Esperando agosto chegar

O ICOX, primeiro software livre de Inteligência Coletiva desenvolvido no Brasil, estará com sua versão 1.0 disponível para download em agosto. Ao contrário dos novos softwares que oferecem interação de ferramentas, como o Flock (falarei sobre ele em um próximo artigo), o ICOX é um gerenciador de comunidades virtuais. Baseado em Web 2.0, ele vai ajudar não só os profissionais que trabalham com comunicação e informação, mas todos os que necessitam trocar conhecimento e idéias, no âmbito local, regional ou internacional.

Tive o prazer de testar o ICOX e, confesso, estou contando os dias para agosto chegar. Para quem viveu os tempos do BBS (Bulletin Board System) – sistema de troca de informações semelhante a um quadro de avisos e considerado o avô da Internet que conhecemos hoje – o ICOX é um avião. Mesmo para os que não são tão “coroas” na Grande Rede, ele dá um banho em termos de gerenciamento de listas.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi o uso de abas – elas vieram para ficar – para acessar as diversas comunidades das quais o usuário participa. Lembra a estrutura de um jornal, onde o usuário é o editor e escolhe as “notícias” que irão para a “primeira página”. Assim, pode ter uma idéia rápida do que está se passando nas comunidades e entrar com um só login. Não me surpreende que o projeto tenha à frente um jornalista. Carlos Nepomuceno que se dedica ao tema desde a década de 80. A primeira página www que vi na vida (até então operávamos em DOS, tela preta e letra branca) foi na máquina dele. Mas isso é outra conversa.

No ICOX, o usuário pode acompanhar toda a sua participação na comunidade, da mesma forma que observa e consulta a movimentação dos outros participantes: mensagens, imagens e artigos postados, estatísticas e muito mais. Para quem quer acompanhar um assunto e chegou atrasado, é perfeito. Para pesquisa, uma mão na roda. E ainda há uma área para pendências, semelhante a um espaço de rascunho. A versão 1.0 ainda não permitirá agendar a postagem, mas este recurso já está na lista das melhorias para o 2.0.

Para quem gerencia ou anima uma ou mais comunidades, as facilidades são ainda maiores. A administração é simples, toda feita por botões e listas. Objetivo, direto e prático. Há vários níveis de gerenciamento, com diferentes competências, o que transparece a intenção de permitir a delegação de “poder” dentro das comunidades. Gostei demais disso, porque se aproxima bastante do objetivo da Web 2.0 de construir o conhecimento de forma coletiva. Porque quando temos um espaço onde todos podem dizer o que pensam, mas apenas o mediador decide o que vai para o ar, como é o caso de algumas listas moderadas, este “coletivo” fica um tanto fragilizado.

O ICOX já sai adaptado para o uso por deficientes visuais e poderá ser instalado em qualquer servidor, na rede local (intranet) de instituições e empresa ou na internet.

É bom ver nascer um software ser livre, gratuito e nacional, desenvolvido com o dinheiro dos nossos impostos, com a capacidade técnica dos nossos profissionais, para fomentar o desenvolvimento de idéias, projetos, arranjos e empresas no nosso país.