quinta-feira, agosto 10, 2006

Web 2.0 não é forma, é conteúdo

Outro dia li o post Logomarcas tradicionais em estilo Web 2.0, do Carlos Cardoso, que já deu filhotes no blog do Felipe Ranieri e agora brota por aqui. Falava de como diferentes grupos de pessoas entendem a Web 2.0. “Um grupo mais cínico ainda defende que Web 2.0 é Marketing + cantos redondos + degradê”, dizia o Cardoso. E ele citava um pessoal no Flickr onde os “cínicos” postam logomarcas famosas em versão 2.0. As releituras das logomarcas são ótimas, e tem umas que são realmente engraçadas. Mas, em termos conceituais, parece que ainda está longe do que seja Web 2.0.


A “nova fase” da Internet nada tem a ver com forma, mas com conteúdo. E também não se trata de uso intensivo de tecnologia, mas de interação na comunicação. É claro que sempre que algo novo aparece, alguém vai querer vendê-lo. E nisso concordo com o Felipe. Se há um cliente disposto a pagar por um serviço, não vejo mal algum. Então, quando uma empresa remodela seu site para 2.0, acaba por mudar o seu design para avisar ao mundo que tem algo de diferente ali.

Só que não adianta nada mudar a aparência, se a forma de se comunicar continuar idêntica, onde um emissor fala e os receptores escutam. O que os teóricos da comunicação, como Pierre Lévy, perceberam é que as ferramentas que temos hoje nos permitem uma interação maior, em um modelo de “muitos para muitos”, só que sem as fronteiras físicas.

Manuel Castells reforça este pensamento dizendo que “a formação de redes é uma prática humana muito antiga, mas ganhou vida nova, transformando-se em redes eletrônicas de informação energizadas pela Internet, que podem envolver pessoas de dentro e de fora da empresa na troca de experiências e na busca de novas abordagens para problemas comuns.” Nada além do bom e velho “dedo de prosa” em volta da fogueira, só que virtual.

Portanto, a Web 2.0 é a interação entre seres humanos com o objetivo de somar o que se sabe com o que se deseja saber. Nesta conta um tanto louca, o resultado é a multiplicação dos saberes. Parece mágica, mas é Inteligência Coletiva.

Foi isso que os desenvolvedores do Linux fizeram. Através de listas de discussão, trabalharam em conjunto e criaram a maior dor de cabeça para o Bill Gates. É o que o se chama de empoderamento. Cada um de nós pode mudar as coisas, se tivermos a capacidade de nos articular. Isso, claro, pede uma mudança de postura das mais difíceis: ouvir o que o outro diz, levar em consideração, trabalhar com as diferenças.


Discordo que a Web 2.0 seja uma revolução, mas acho estreito ignorar ou desprezar um movimento - ou um momento - significativo pelo qual passa a comunicação e a interação entre os homens. A Internet nasceu da necessidade de trocar informações e de estabelecer redes de interação. Passamos dez anos tentando criar ferramentas para que tudo ficasse mais fácil para o usuário comum e para que as mídias que conhecíamos fossem incorporadas ao ambiente virtual. Pois agora é a hora de usar tudo isso.